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JÓ NO CAPÍTULO 19. 6-12, BLASFEMOU CONTRA DEUS?

Pergunta: Já ouvi pregações e louvores onde diz que Jó não blasfemou contra Deus mesmo com tudo que passou; mas essas falas (19. 6-12), não ...


Pergunta: Já ouvi pregações e louvores onde diz que Jó não blasfemou contra Deus mesmo com tudo que passou; mas essas falas (19. 6-12), não seriam uma blasfêmia culpando a Deus por tudo?

 

Vejamos o texto na tradução ARA (Almeida Revista e Atualizada)

 

“Sabei agora que Deus é que me oprimiu e com a sua rede me cercou. Eis que clamo: violência! Mas não sou ouvido; grito: socorro! Porém não há justiça. O meu caminho ele fechou, e não posso passar; e nas minhas veredas pôs trevas. Da minha honra me despojou e tirou-me da cabeça a coroa. Arruinou-me de todos os lados, e eu me vou; e arrancou-me a esperança, como a uma árvore. Inflamou contra mim a sua ira e me tem na conta de seu adversário. Juntas vieram as suas tropas, prepararam contra mim o seu caminho e se acamparam ao redor da minha tenda.” (Jó 19:6-12)

 

    Quando chegamos no capítulo 19. 1-29, vemos Jó dando resposta a Bildade. Nesse capítulo em especial, as falas de Jó são de fato muito fortes e em alguns momentos quando estamos lendo, pensamos: Nossa! A impressão que tenho é que de fato Jó está blasfemando contra Deus.

 

    Contudo, para chegarmos a uma conclusão quanto às falas de Jó, precisamos olhar no mínimo todo o contexto do capítulo 19.

 

Contextos para chegarmos a uma interpretação que esteja em consonância com a Palavra de Deus.

 

I. A visão Judaica acerca de Deus;

 

No Antigo Testamento, especialmente antes do Exílio Babilônico, a visão Judaica acerca de Deus, não incluía a pessoa de Satanás como o vemos no cristianismo. Para o Judeu o bem e o mal era impetrado e determinado por Deus. Como exemplo podemos citar 1 Samuel 16:14, que nos afirma: “Tendo-se retirado de Saul o Espírito do SENHOR, da parte deste um espírito maligno o atormentava.”   Portanto, Jó não tinha consciência de que Satanás o havia acusado diante de Deus, afirmando que ele só o servia por causa das bênçãos que ele recebia. Jó também não sabia que Deus autorizara a Satanás tocar em tudo o que ele tinha, poupando-lhe somente a vida. Na mente de Jó, todo o mal que ele estava recebendo vinha diretamente das mãos de Deus.

 

II. Um sofrimento sem precedentes e inexplicável;

 

Precisamos buscar compreender a magnitude do sofrimento de Jó, para avaliarmos sua fala nesse capítulo de forma sábia. Vemos pela Palavra de Deus narrada em Jó 1. 13-19, que praticamente ocorrido num mesmo dia, ele perdeu todos os seus filhos, animais e diversas outras perdas. A partir daí na sequencia da narrativa bíblica, o vemos numa nova fase onde é atacado por úlceras malignas que o atingiram desde a planta dos pés até ao alto da cabeça. O texto ainda nos mostra esse triste quadro de enfermidade, que obrigou Jó a se sentar no meio da cinza e com um caco, ele se raspava para ter alívio do terrível incômodo desta doença. (Jó 2. 7,8). O sofrimento de Jó foi sem precedentes e o levou ao ápice do limite humano. Lembrando ainda, que todo esse mal sobreveio a um homem que segundo a Palavra de Deus era “íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal.” (Jó 1.1)

 

III. Amigos acusadores;

 

A narrativa bíblica ainda nos mostra a partir do Capítulo 2.11..., Jó recebendo 3 amigos (Bildade, Elifaz e Zofar). O interessante é que ao invés de consolar, confortar e animar a Jó, esses homens se puseram a acusá-lo de pecados e o repreendiam. Quando Jó usa a expressão “dez vezes me vituperastes” (19.3), essa força de expressão quis dizer “repetidamente”. Os amigos de Jó o levaram a uma grande e completa humilhação. As acusações que não eram verdadeiras expressadas por seus amigos, se tornaram um verdadeiro tormento para Jó. Esses homens, estão assassinando a Jó espiritualmente, moralmente e emocionalmente; e é dentro dessa grande pressão que vemos Jó respondendo a Bildade, tão forte e rasgando de forma sincera o seu coração.

 

IV. Um homem sob grande pressão, buscando compreender a razão do seu sofrimento;

 

Jó está perdido, esmagado, humilhado e sem direção! Todas as suas bases de valores que o acompanharam em sua trajetória de vida e o nortearam como servo de Deus, foram arrancadas e agora ele somente crê, que o mesmo Deus que até então o sustentara e operara tantas maravilhas em sua vida, se voltara contra ele, ministrando todos os horrores pelos quais estava passando. (Lembrando que dentro do contexto do Judaísmo, Deus é o detentor e impetrador das coisas boas e más). É nessa busca de compreender e ao mesmo tempo ter de responder aos seus “amigos”, que ele expressa palavras tão fortes, que às vezes soam para muitos como blasfêmia contra Deus. Ele está expressando nesse momento, o que o seu coração está crendo:  “Deus o havia oprimido”; “Deus usara de extrema violência contra ele”; “Deus fechou o seu caminho e colocou trevas em sua estrada, de forma que ele não podia passar”; “Deus o despojou de sua honra”; “Deus o arruinou de todos os lados”; “Deus estava irado com ele”.

 

Observe que Jó apresenta esse discurso tão forte a Bildade, mas não abandona a Deus! Apesar de não compreender as razões do seu sofrimento, vemos através da sua fala fios de esperança de sua justiça e ainda que não fosse feita no presente, ela viria no porvir. É perceptível, essa grande verdade através do seu desejo de que suas palavras fossem gravadas. Ele cria plenamente que seu Redentor vivia e que por fim se levantaria de sobre a terra e o justificaria. Jó ainda profetizou que veria a Deus face a face em sua vida. É interessante observarmos que a Palavra Redentor, pode ser traduzida por “Defensor”, “Vingador”, “Fiador”, “Justificador” “Mediador” ou “Resgatador”. Usando as palavras de Jó, que está vendo Deus como o seu inimigo, vemos que faz sentido ele precisar de um Redentor, um mediador, um justificador, um defensor. Embora saibamos perfeitamente que Deus não era inimigo de Jó e que no final o próprio Deus se torna o seu justificador, (42.7), ao ler o texto, percebemos claramente que Jó espera a vinda de uma terceira pessoa, um Redentor, para defendê-lo. Claramente nesse ponto, temos uma imagem que nos remete ao Novo Testamento, nos mostrando que esse “Redentor” é o próprio Jesus Cristo. (I Tm 2.5)

 

V. A realidade de um homem que agora conhece a Deus pessoalmente;

 

Agora leia o texto de Jó 41. 1-6 e medite nas palavras que Jó dirige a Deus, quando de sua restauração completa: “Então, respondeu Jó ao Senhor: Bem sei que tudo podes, e nenhum dos teus planos pode ser frustrado. Quem é aquele, como disseste, que sem conhecimento encobre o conselho? Na verdade, falei do que não entendia; coisas maravilhosas demais para mim, coisas que eu não conhecia. Escuta-me, pois, havias dito, e eu falarei; eu te perguntarei, e tu me ensinarás. Eu te conhecia só de ouvir, mas agora os meus olhos te veem. Por isso, me abomino e me arrependo no pó e na cinza.

 

    Aqui estamos vendo um homem quebrantado, transformado e que agora compreende todo o contexto do sofrimento que passou. Jó chega a confessar a Deus que havia falado do que não entendia; falou de coisas que estavam acima da sua compreensão e conhecimento. Ele fala de forma graciosa que antes conhecia a Deus só de ouvir, mas agora os seus olhos O estavam vendo. Jó se abomina e se arrepende no pó e na cinza.

 

Conclusão:

 

    Mesmo sem o conhecimento pleno de Deus, apenas de ouvir falar,  Jó vivia como um “homem íntegro e reto, temente a Deus e que se desviava do mal.” (1.1) Deus permitiu que Satanás o provasse, porque sabia que Jó se manteria fiel e seria aprovado. O texto em foco da nossa análise (Capítulo 19), acontece num dos momentos mais cruciais do período do sofrimento de Jó. Há momentos que até o leitor ficará confuso e pensará que Jó blasfemou contra Deus, ao ver a resposta que ele deu a Bildade. Contudo, diante de todos os argumentos discorridos acerca desse tema, afirmamos com certeza, que Jó não blasfemou contra Deus, pois a sua visão teológica acerca de Deus era distorcida. Para ele, Deus enviara todos aqueles males sobre a sua vida. Contudo, quando Deus restaurou a sua sorte e o abençoou sobremaneira, as escamas caíram dos seus olhos e ele pôde compreender e contemplar a Deus como Ele é.

 

 

Pr. Waldyr do Carmo

 

IGREJA CASA DE ORAÇÃO CEHAB

 

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BIBLIOGRAFIA

 

- Bíblia Sagrada

 

- Site Jamais Desista

 

- O Antigo Testamento Interpretado – Versículo por versículo – R.N. Champlin, Ph. D.

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